quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Quem é o "deficiente"?


É muito fácil. É muito fácil falar que há acessibilidade quando consigo confortavelmente subir escadas com minhas duas pernas que funcionam perfeitamente.

È muito fácil falar que há acessibilidade quando tenho dois olhos que vêem, e conseguem distinguir as cores de um semáforo. Que sabem diferenciar o verde do vermelho, e me informam com precisão e segurança se posso, ou não, atravessar a rua.

È muito fácil falar que há acessibilidade quando tenho dois ouvidos que ouvem. Que fazem ter sentido aquele movimento constante que todos fazem de abrir e fechar a boca quanto querem se comunicar, que me possibilitam também de aprender a executar tais movimentos.

É muito fácil falar que há acessibilidade quando minha mente sabe distinguir o real da fantasia. Quando meu “juízo” sabe que, embora eu tenha meu “mundinho”, eu tenho que me comportar nesse “mundão” do qual todos fazem parte, e quando eu sei todas as regras de comportamento desse “mundão”.

Mas o que dizem aqueles que têm olhos que não vêem, pernas que não andam ou ouvidos que não ouvem!? Será que para eles também é fácil falar em acesso!?

Agora, de que me adianta ter olhos que vêem, se não consigo enxergar que nesse “mundão” existem pessoas que não conseguem pegar um ônibus para ir trabalhar, ou subir uma calçada na rua porque a cadeira de rodas “empanca” no degrau.

De que me adianta ter duas pernas e dois braços que funcionam perfeitamente, se nada faço para pelo menos minimizar as dificuldades dessas pessoas? De que me adianta ter uma mente que distingue o real da fantasia, se nem se quer me preocupo essas dificuldades? De que me adianta ter ouvidos que ouvem, se não ouço quando uma dessas pessoas me pede ajuda na rua?

Aí eu pergunto: Quem é o deficiente? Uma pessoa que tem olhos que não vêem, ou uma pessoa que tem olhos que vêem, mas não enxergam!? Uma pessoa que é feliz em seu mundo de fantasia, ou alguém que não se conforma com essa felicidade e tenta exterminá-la das formas mais cruéis? Uma pessoa que precisa de ajuda para se locomover, ou uma SOCIEDADE que se recusa a ajudar?

2 comentários:

Elaine de Oliveira disse...

A deficiência está no coração, João!
Bonito texto, gostei!

:)

Unknown disse...

Sair do conforto e prestar atenção nos outros é uma tarefa que poucos conseguem fazer.

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