terça-feira, 18 de outubro de 2011

Capim Santo


Depois de muito tempo caminhando sobre o asfalto devo confessar que havia me esquecido do quanto é prazeroso caminhar no chão de terra. Havia me esquecido da satisfação que dá acumular poeira nos pés, olhar cada recantinho do chão para não pisar em espinhos... dentre outras tantas “aventuras” que a cidade não costuma nos proporcionar.

A água morna da mangueira. O sol que, mesmo se escondendo, esquenta sem piedade. A poeira fina da estrada que se acumula no carro e, por conseqüência, também se acumula em nós, em nossas roupas, em nossa garganta.

A sombra do Juá, que oferece o ambiente perfeito para observar a paisagem verde ressecada. O céu limpo, quase que sem nuvens e o sopro do vento em nossos ouvidos. A sutileza com que o tempo passa. A noite que vai chegando mansinho, acompanhada de revoadas de mosquitos.

Para muitos pode parecer tolice. Para outros tantos, apenas um emaranhado de palavras sem nenhum significado lógico. Apenas alguns vão entender o que quero deixar registrado neste pequeno escrito. Pequenos recortes de uma essência, que como essência que é, se preserva latente em cada célula, esperando um momento oportuno para vir a tona.

Tempo demais no asfalto pode me deixar esquecido do prazer de pisar na terra quente (sim, ele existe), mas não pode me privar de guardar em mim aquilo que sou.

Justamente na volta para a cidade foi que pude me dar conta do quanto foram proveitosas aquelas simplórias duas horas na zona rural.

A garganta ardendo pelo excesso de poeira na estrada. O vento entrando hora quente, hora frio pela janela. O céu rosado do final de tarde. O cheiro forte da terra quente molhada por tímidas gotas de chuva misturado com o perfume doce (e igualmente forte) do “capim santo” colhido para ser transformado em chá.

Capim que desde aquele instante doou sua essência, levando perfume, e por que não também um pouco de santidade, aos pensamentos enrijecidos como/pelo o concreto da cidade.