terça-feira, 16 de agosto de 2011

Conotação


Sempre gostei de metáforas. Acho interessante a ideia de “personificar” as coisas e de “coisificar” as pessoas. Acredito que comparações nos permitem enxergar tudo com novos olhos, nos oferecendo novas maneiras de entendimento.

Olhar para si com os olhos de outro, do mesmo modo que olhar para o outro como se estivesse olhando para si me parece muito saudável. Ensina, e muito! Mas temos “travas” que muitas vezes nos impedem de pensarmos que agimos como alguém que está por perto. Gostamos de reprovar o outro sem chances de “recuperação”, e muitas vezes, reprovamos sem percebermos que naquela “disciplina” também estamos com as notas muito baixas.

No meu entender, a “coisificação”, a substituição dos papéis, a inversão das coisas... enfim a “metaforização” é uma ferramenta que ajuda a quebrar estas “travas”.

Por exemplo, cada pessoa carrega em si uma porção de coisas não é? Lembranças, memórias, sentimentos, mágoas... o tempo passa, e vamos acumulando mais e mais situações... desprezando algumas, guardando outras... enfim, vamos partir deste pressuposto: cada um carrega em si uma bagagem.

E partindo deste ponto, onde enxergamos cada um com um monte de coisas para guardar, vamos tentar nos percebermos como caixas. Pode ser? Isso, caixas. Aquelas que usamos para guardar as nossas “quinquilharias”. Mas, como seres humanos que somos, não podemos nos imaginar como um depósito cheio de caixas iguais empilhadas... Cada um é cada um, logo, cada caixa é uma caixa.

Algumas são maiores, carregam mais coisas, a maioria delas desnecessárias. Objetos quebrados, que não tem mais concerto e que já podiam ter sido jogados no lixo, mas a caixa prefere guardar. Essas são pesadas, cheias demais... e sempre que alguém tenta “carregar” acaba derrubando alguma coisa. Quebra o que já estava quebrado, ou quebra algo que ainda podia ser útil, mas se perdeu pelo excesso.

Há também as caixas pequenas. Que só guardam o essencial. Essas podem ser carregadas com mais facilidade, mas como o espaço livre para guardar novas coisas é bem reduzido, muitas pessoas têm medo deste espaço não ser suficiente para armazenar tudo o que pretendem. Têm também aquelas caixas de tamanho médio. Não tão leves como as pequenas, mas com bem menos peso que as grandes.

As caixas variam não só quanto ao tamanho. As formas são variadas, assim como as cores. Algumas são escuras, opacas... não dá pra ver nada que tem guardado lá dentro. Enxergamos só algumas pontinhas que aparecem por cima. Outras, porém, são translúcidas, mostram grande parte do seu conteúdo de longe, só não conseguimos ver o que é ocultado pelo que fica mais exposto.

Puxa como tem caixa! São tantos os tipos. Como já disse, cada caixa é uma caixa, seria impossível descrever todas as modalidades. Mas dentre as “categorias gerais”, a gente pode ficar imaginando mais ou menos como somos enquanto caixa. O que estamos guardando de desnecessário, o quanto estamos pesando, quanto de nosso conteúdo está exposto... e podemos observar também aquelas caixas que ficam guardadas próximas de nós!

Percebeu como é mais fácil se entender, e tentar entender os iguais, quando não nos vemos somente no sentido literal!? Vamos conotar um pouco mais a vida!

No sentido literal ou figurado, algo que deve ser lembrado é que devemos manter em nossa caixa o que consideramos preciso. O que pode parecer pesado ou inútil para o outro pode ser necessário para mim. Também devemos deixar à vista aquilo que acreditamos dever. Se a caixa vai causar encanto ou repulsa no primeiro olhar, vai depender do olho de quem vê. Olho esse, que não compete a nossa responsabilidade... ele fica guardado em outra caixa.

Somos um amontoado de coisas... o que esse amontoado forma não pode ser descrito nem pelo próprio amontoado. Mas cada um sabe mais ou menos o que carrega, e porque carrega.

E acredito que é por aí que devemos ir. Tentando entender o que há em nossa própria caixa. Tem tanta coisa em nós mesmos para tentarmos desvendar! Por que quebrar a cabeça supondo o conteúdo das outras caixinhas?

E a “caixinha” deste texto carrega um grande amontoado de letras. Mas a metáfora me agradou, e achei que para esta caixa, essas eram as palavras necessárias, ainda que possam parecer muitas.

Precisamos aprender a carregar o que nos faz bem. Assim como devemos nos banhar para nos sentirmos limpos, não pelo cheiro que os outros vão sentir ao se aproximar. Sejamos quem somos por nos gostarmos assim, não pelo peso que nossa caixa vai “aparentar” aos demais.

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