quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Só.


Quando se passa muito tempo sozinho, naturalmente passa-se também a se conhecer melhor. Na ausência de alguém para conversar, surgem as conversas consigo mesmo, e a partir daí, descobrem-se coisas sobre si que antes não eram conhecidas.

O período que se fica “só” é um período de muito aprendizado. No silêncio e nas ausências, o que se tem passa a ser mais valorizado. O que antes poderia representar pouco, aos poucos vai representando bem mais. Aprende-se o que de fato é importante e o que não é, e também, o que merece ou não ter importância.

Nessas mesmas ausências, aprende-se a fazer barulho no silêncio, o que não é muito legal. Os barulhos do silêncio costumam ser difíceis de calar.

Nas “auto-conversas”, surgem os “auto-entendimentos”, onde em um processo natural de conhecer, aos poucos se chega ao compreender. Mas surgem também os “auto-desentendimentos”; conversando muito consigo mesmo percebe-se que não se é só um, e no decorrer das conversas, os atritos de suas personalidades tornam-se inevitáveis.

Em suma, os períodos em que se fica sozinho são períodos de crescimento e de amadurecimento. E são necessários. É preciso se conhecer bem para se ser bem. Mas tais períodos também são perigosos.

Indo totalmente de encontro à impessoalidade do texto até agora, e colocando o sujeito em primeira pessoa, tenho meus conceitos e minha fé, e acredito que de fato, homem nenhum fica totalmente sozinho por um segundo que seja.

Mas, venhamos e convenhamos, deixando de lado todas as frases bonitinhas e de auto-ajuda, mesmo com todas as companhias muito especiais que temos constantemente, às vezes ouvir um barulho de outra pessoa faz falta. Faz falta dividir o espaço nem que seja para compartilhar oxigênio.

Um riso sozinho não tem 10% da energia de um riso dividido, e, quando se ri muito sozinho, as coisas correm o risco de perder a graça. Quando nos conhecemos bem, percebemos que não somos totalmente inteiros e, nossos complementos moram fora de nós.

A palavra sente falta de ser falada. A voz sente falta de ser ouvida. Um riso sente falta de ser dois. Os assuntos para se discutir sozinho não são mais vastos. E os “eus” passam a ter mais desentendimentos. E o silêncio, grita! Mas hoje só tem você aqui...

E, como você percebe que é sua única companhia física, vai aprendendo a dar mais atenção as companhias que não se veem. E passa a procurá-las em cada recantinho, numa tentativa (algumas vezes frustrada) de não se sentir só.

Aí a gente aprende que sim, fazem falta os abraços no corpo, mas enquanto esses não chegam, é preciso saber aproveitar os abraços da alma.

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