sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Psiiiiiiiu!


Enquanto alguns não perdem nenhum segundo de concentração, outros cochilam sobre os seus livros e anotações. Alguns mexem em seus papéis com cuidado para não fazer barulho, outros, desastradamente, quebram o silêncio de modo brusco, arrastando cadeiras ou com toques estridentes de telefones.

As mãos, todas inquietas, apóiam as faces, se apertam e/ou se aquecem. Escrevem, anotam, colorem textos com riscos de lápis fluorescentes, ou ainda, esticam os braços como uma tentativa de arrancar disposição de onde já não há.

Vez ou outra, alguns olhares curiosos, que tentam descobrir o tema dos estudos do vizinho, se cruzam com outros olhares também curiosos, e, ambos se convertem em olhares tímidos, que logo buscam refúgio nas letras miúdas que precisam ler e compreender.

Olhos cansados se esforçam quando já sentem que não conseguem mais. Olhos exaustos desistem, e arrastam corpos igualmente exaustos para o lado de fora, aquele lugar onde se pode falar.

Porém, as cadeiras mudas ficam sozinhas por pouco tempo. Logo são ocupadas por outros que precisam partilhar do silêncio, ouvir estalar de dedos, canetas sendo abertas, riscos de lápis, espirros discretos e folhas que se movem lentamente, tentando levar um pouco do silêncio para aquele mundo onde se pode falar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

e dois/ e-12


Mais uma vez, após um pequeno período de ausência estou voltando para o meu pequeno refúgio. As palavras deixam novamente as folhas de papel e passam a ocupar seu espaço nesse recantinho que é tão “meu” e ao mesmo tempo não é... Como tudo de certo modo é de fato!

Nesses primeiros dias do ano tenho pensado bastante nessa perspectiva que construímos de propriedade, e em quantas vezes pensamos que “temos” quando na verdade “não temos”. Momentos que disfarçamos de “eternidade” para nos sentirmos seguros.

Tenho pensado bastante nisso porque minha mente tem me levado bastante para minha vida há dez anos, e pela primeira vez, tenho lembranças ricas em detalhes de um período tão distante, dez anos. Lembro do que eu tinha como “meu”, das pessoas que eram “eternas”, do perfume que eu usaria “pra sempre”, dos sonhos que eu queria realizar sei lá, em 2012! Ia demorar tanto mesmo a chegar...

E aí? E aí que muito do “eterno” já se perdeu, não que nada tenha ficado, ficou, e muito! Mas a maioria do que ficou, ficou só aqui comigo, em minha mente, que diferente de mim, consegue ser organizada.

E meu perfeccionismo quase doentio não me permite não pensar em como eu vou estar daqui a dez anos, se eu estiver. Não consigo não tentar imaginar quais retalhos do meu “eterno” de hoje vão se revelar de fato como “eternos”, e quais deles vão se organizar naqueles arquivos que guardo com muito carinho, mas que (in)felizmente não consigo reproduzir por inteiro.

O passar dos anos está me transformando em um velho chato. É certo que a chatice sempre fez parte de mim de um modo bem acentuado, mas ela está crescendo junto comigo. E essa nova chatice, mais madura, aprendeu a ser exigente e criteriosa.

O meu arquivo de lembranças, graças a Deus, é bem rico! Gosto sempre de recorrer a esta caixinha que guardo em mim porque ela costuma me fazer muito feliz, mas eu temo por aquilo que hoje eu “tenho” e que em 2022 pode estar guardado somente na caixa, não mais em minhas mãos.

Amo minhas lembranças, e sou muito grato em tê-las, mas a rapidez com que as coisas estão acontecendo têm me feito desejar “eternidades concretas”. Preciso daquilo que fique por dez anos, e por muito mais que isso, não apenas nas lembranças, que simplesmente fiquem!