quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
.peregrino.
Sempre gostei de caminhar. Os pensamentos que brotam em minha mente durante as caminhadas costumam me fazer bem. Quando possível, escolho os caminhos mais longos, unicamente para que a caminhada possa ser mais extensa. Gosto mais ainda quando posso andar com o pé direto no chão, sem nenhum calçado para atrapalhar meu contato com a terra.
Manter os pés no chão sempre foi algo muito meu. Lembro que por muitas vezes quando pequeno as pessoas se admiravam ao me ver descalço no solo quente. Meus pés nunca temeram o calor da terra, e aprenderam a suportar terrenos acidentados.
Acredito que o que me dá esse gosto por caminhar é sentir que, caminhando, eu percebo melhor que sempre sentirei o desejo de chegar a algum lugar; a um lugar distante.
Caminhando, eu compreendo que não sou daqui, e até o momento da partida, tudo o que me acontecer não passará de uma longa caminhada, de uma peregrinação. Pela definição no dicionário, isso faz de mim um peregrino; “aquele que anda em peregrinação.”
Mas na complexidade da língua portuguesa as palavras nunca possuem uma só definição. Também se diz do peregrino um “estrangeiro”, um “viajante”; ou ainda, alguém “que está nesta vida para passar à eterna”; alguém “singular, que é poucas vezes visto”.
E atentando para as demais definições da palavra, percebo/ sinto que nada pode me definir melhor do que peregrino. Não somente pelos caminhos que meus pés procuram, mas também e principalmente pelos caminhos que minha alma percorre. O gostar de caminhar é somente um reflexo, uma resposta de um corpo que procura um lar, por sentir que sua morada não é neste lugar.
E isso a gente sente quando está com os pés no chão, ou simplesmente quando está no chão. Isso a gente sabe só porque sabe, e não consegue explicar. O ser peregrino está só no sentir. No aperto de um abraço, na pequena lágrima que escorre no rosto, nas mãos que se unem em oração, ou no pensamento, que mesmo na distância, coloca você em unidade com os anjos.
A gente sabe quando é peregrino e não precisa ninguém te dizer; até porque alguém muito especial te diz isso todos os dias, no silêncio do seu coração.
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